A Bolívia esteve envolvida numa semana trágica com três infanticídios, cinco feminicídios e dois parricídios, que custaram a vida a um total de 10 pessoas entre 18 e 26 de abril.
As crianças Tamy, Saraí e Juan Carlos foram vítimas de infanticídio, sendo Tamy assassinada em Cochabamba e as outras duas em Santa Cruz. Por outro lado, Carla Patricia e Viviana foram vítimas de Cristian Franco Condori, que conquistou sua confiança e acabou com suas vidas em momentos diferentes. Além disso, Aurélia e Remigia perderam a vida em Cochabamba, tendo Aurelia sido assassinada por seu marido Simeón Jiménez Quinto em Capinota, e Remigia em Pocona, em crime atribuído a um adolescente de 17 anos, possivelmente acompanhado por outros dois pessoas. Além disso, uma jovem de 19 anos de Potosí foi vítima. Eliodoro foi assassinado pela filha Gissel em Santa Cruz e Lucila pelo filho em Cochabamba.
Destes casos infelizes, cinco crimes ocorreram em Santa Cruz, quatro em Cochabamba e um em Potosí. Quatro dos perpetradores admitiram a sua culpa e foram condenados à pena máxima de 30 anos de prisão.
TAMY, ESTUPRO E INFANTICÍDIO
Tamara, carinhosamente conhecida como Tamy, tinha apenas dois anos e 10 meses e sofria de uma deficiência que dificultava seu andar e falar bem. O caso chocou a sociedade, já que a menina foi vítima de estupro pelo padrasto, Romário Soria Fajardo, antes de morrer.
O trágico acontecimento ocorreu no dia 18 de abril em Punata, município do Alto Vale de Cochabamba. A mãe de Tamara, uma menina de 25 anos, trabalhava em uma pensão e pediu ao companheiro, Romário, de 24 anos, que cuidasse da filha por algumas horas. Ao retornar, encontrou a menina gravemente ferida e imediatamente a levou ao Hospital Manuel Ascencio Villarroel de Punata, onde faleceu após cinco horas de agonia.
Após a internação de Tamy, a equipe médica alertou a Força Especial de Combate à Violência (FELCV) sobre o caso de um menor que havia sido internado com ferimentos graves decorrentes de violência física e sexual.
Posteriormente, Romário foi detido e levado ao Instituto de Investigações Forenses Coña Coña (IDIF) para prestar seu depoimento informativo e ser submetido a diversos exames.
Romário admitiu a sua culpa e foi submetido a um julgamento abreviado, no qual o Juízo Público Misto de Instrução Civil, Comercial e Criminal nº 1 de Anzaldo o condenou à pena máxima, 30 anos de prisão, pelos crimes de violação de criança, menina,. menino ou adolescente e infanticídio.
Tamy morreu devido a vários ferimentos graves que incluíram compressão de centros nervosos superiores, hematoma subdural, traumatismo cranioencefálico fechado, policontusão e trauma genital.
Seus pais, imersos em profunda dor, não encontram consolo pela perda da filha. Eles tinham dois filhos (o outro é homem e tem quatro anos) e moravam em Chimoré, no Trópico de Cochabamba. Após a separação em outubro de 2023, o mais velho ficou aos cuidados do pai, enquanto a menina foi com a mãe para Punata em busca de novas oportunidades de trabalho.
Há sete meses, a jovem conheceu Romário e iniciaram um relacionamento amoroso. Eles decidiram morar juntos, nunca imaginando que esse homem seria capaz de cometer um ato tão cruel.
DOIS CRIMES, UM AUTOR
O autor de dois crimes, Cristian Franco Condori, 23 anos, foi capturado na segunda-feira, 22 de abril, enquanto tentava esconder o corpo de sua segunda vítima em um prédio no bairro La Morita, em Santa Cruz.
Cristian, assim como os vizinhos, acionou a Polícia para denunciar o crime. As pessoas que moram no entorno relataram o cheiro forte vindo da casa, onde encontraram os corpos de Carla Patrícia D., 26, e Viviana CG, 21.
Ao ser encurralado pela polícia, ele confessou ter assassinado outra mulher, Viviana, 10 dias antes. Cristian era conhecido por abordar suas vítimas sob o pretexto de ser uma pessoa gentil para ganhar sua confiança, depois agredi-las sexualmente e tirar suas vidas. Segundo as investigações, esse homem planejava um terceiro crime.
No dia seguinte, terça-feira, 23 de abril, Cristian aceitou um julgamento abreviado e foi condenado a 30 anos de prisão em Palmasola, sem direito a perdão.
Na madrugada de segunda-feira, 22 de abril, Aurelia CV morreu devido a 25 facadas infligidas por seu companheiro, Simeón Jiménez Quinto. O trágico acontecimento aconteceu enquanto ele dormia ao lado do filho de seis anos, que também ficou ferido na cabeça. No dia seguinte, Simeon foi condenado a 30 anos de prisão em El Abra pelo crime de feminicídio, sem possibilidade de indulto, após passar por um julgamento abreviado.
Segundo relatório do promotor departamental de Cochabamba, Osvaldo Tejerina, no dia do crime, Simeón, 38 anos, voltou para casa por volta das 04h00, supostamente em estado de embriaguez. Naquela época, Aurélia dormia com o filho mais novo quando foi atacada pelo marido. Durante o episódio violento, o menino sofreu um ferimento cortante na cabeça.
As outras crianças, de 13 e 16 anos, perceberam o que estava acontecendo e saíram de casa em busca de ajuda. Aproveitando a confusão, Simeão conseguiu fugir, mas foi capturado pela Polícia de Capinota uma hora e meia depois.
Aurélia morreu devido a hemorragia, laceração no pulmão esquerdo e trauma penetrante no peito causado por faca.
REMIGIA: MORTE NO CAMPO
Cochabamba estava de luto pelos crimes das meninas Tamy e Aurélia, quando outro caso de feminicídio abalou a comunidade. A PM Remigia, uma mulher de 62 anos, foi encontrada morta na comunidade de Mataral de Pocona, tornando-se a quinta vítima de feminicídio neste ano no departamento. Um adolescente de 17 anos surge como principal suspeito do crime, em cumplicidade com outras duas pessoas. Ele e o pai estão em prisão preventiva.
Remigia saiu de casa no domingo, 21 de abril, para pastar suas ovelhas na região de Mataral, em Pocona, a 135 quilômetros da cidade. Ele não voltou para casa e seus parentes iniciaram a busca. Na madrugada do dia 23 de abril, vizinhos alertaram a Polícia sobre a descoberta do corpo de Remígia em uma vala de um terreno baldio, coberto com galhos de árvores e um aguayo. O corpo apresentava sinais de violência física e sexual.
Os familiares da vítima ficaram surpresos ao encontrá-la em circunstâncias que não pareciam ser resultado de queda ou morte natural, por isso decidiram solicitar uma autópsia médico-legal para determinar com exatidão a causa da morte. O caso foi classificado como feminicídio. Segundo o laudo do Instituto de Investigações Forenses (IDIF), a mulher morreu por anóxia anóxica, compressão cervical extrínseca, asfixia mecânica por estrangulamento e politraumatismo, com intervalo de 24 a 36 horas desde o óbito.
ELIODORO, MORTO POR SUA FILHA
Na quarta-feira, 24 de abril, Gissel Beltrán I., 18 anos, foi condenada a 30 anos de prisão pelo assassinato de seu pai, Eliodoro, além de incendiar seu corpo. A jovem admitiu o crime e aceitou um julgamento abreviado, pelo que cumprirá a pena por parricídio na prisão de Palmasola, em Santa Cruz, sem possibilidade de perdão.
O crime ocorreu na terça-feira, 22 de abril, no bairro Bobosi. Segundo o promotor especializado em Crimes Contra a Vida, Daniel Ortuño, o crime ocorreu na casa da vítima de 49 anos. Segundo as investigações, Eliodoro surpreendeu a filha mantendo relações sexuais com o namorado no quarto dela, o que gerou um confronto. Mais tarde, no meio da noite, a jovem teria usado uma faca para esfaquear o pai até a morte.
Após o crime, Gissel teria levado o corpo do pai para o pátio, junto com o colchão, e ateado fogo. Depois, ao ver que o corpo estava totalmente queimado, ele teria trocado de roupa e queimado a que vestia, além de esconder a faca utilizada no crime. Posteriormente, a jovem informou a mãe, ex-mulher de Eliodoro, sobre o ocorrido, que por sua vez acionou a Polícia para denunciar o crime.
SARAÍ: ELA DESAPARECEU E FOI ENCONTRADA SEM VIDA
Na terça-feira, 23 de abril, a menina Saraí, de dois anos, foi dada como desaparecida em Montero, Santa Cruz. Após algumas horas de intensa busca, seu corpo sem vida foi encontrado em uma piscina perto de sua casa. Inicialmente pensou-se que sua morte foi acidental devido a uma queda, porém, a autópsia revelou que sua morte foi causada por asfixia por asfixia.
Diante deste terrível acontecimento, o Ministério Público iniciou uma investigação contra o autor ou autores. Na quinta-feira, 25 de abril, um homem com deficiência, de 40 anos, foi preso por suposto envolvimento no infanticídio Saraí. O caso segue sob investigação para esclarecer o ocorrido.
JUAN CARLOS: AUTOPSIA REVELA CRIME
O menino Juan Carlos EG, de um ano e quatro meses, foi vítima de infanticídio em Yapacaní, Santa Cruz. Seu padrasto, Benjamín CM, 18 anos, foi detido para fins de investigação.
A verdade sobre o infanticídio de Juan Carlos veio à tona em Yapacaní, onde a criança morreu na terça-feira, 23 de abril, na comunidade de Porvenir. O padrasto e a mãe, de 17 anos, preparavam-se para enterrar o menor, mas foram impedidos por não possuírem a certidão de óbito. Isto levou-os a levar o corpo para um hospital, onde a autópsia revelou que a causa da morte da criança foi asfixia mecânica, descartando que fosse devido a qualquer problema de saúde. Diante dessa descoberta atroz, a equipe médica informou a Polícia e a Ouvidoria da Criança e do Adolescente (DNA).
Os familiares da criança viajaram para Yapacaní, onde ficaram chocados com o resultado da autópsia.
MORTO ENQUANTO PROCURAVA SUAS OVELHAS
Uma jovem de 19 anos foi a terceira vítima de feminicídio em Potosí. O trágico acontecimento ocorreu no domingo, 21 de abril, quando a mulher saiu para pastorear suas ovelhas e foi assassinada em uma comunidade do município de Tinguipaya.
O corpo da vítima foi submetido a análise forense que determinou que a causa da morte foi asfixia mecânica por estrangulamento. Apesar da intervenção de uma equipa multidisciplinar que se deslocou ao local para proceder à remoção legal do corpo, este já tinha sido transferido para um lar pelos comunitários.
Inicialmente, os moradores da comunidade se recusaram a entregar o corpo, mas após insistência acabaram concordando. O laudo da equipe forense confirmou que a morte da jovem foi violenta, acrescentando assim uma nova vítima de feminicídio em Potosí.
LUCILA MORRE NAS MÃOS DO FILHO
Em Cochabamba, foi registrado um trágico caso de parricídio em Vacas, município do Vale Alto. Lucila M.Ch. Ele perdeu a vida nas mãos do próprio filho, que atualmente está sob custódia policial, junto com o pai, para investigações.
Segundo informações preliminares, na quarta-feira, 24 de abril, Lucila teria se reunido com o marido, o filho e o prefeito local, devido a acusações de manter relacionamento extraconjugal, o que a mulher negou. Horas depois, o corpo sem vida de Lucila foi encontrado, aparentemente pelo filho, que se recusou a transferir o corpo para o Instituto de Pesquisas Forenses (IDIF) para a autópsia, afirmando que ela havia tirado a própria vida e que não eram necessárias mais pesquisas. .
A autópsia realizada na sexta-feira determinou que Lucila morreu de forma violenta, por asfixia mecânica por estrangulamento. O diretor da Força Especial de Combate à Violência (FELCV) de Cochabamba, Rubén Cornejo, informou que estava sendo realizada uma investigação coordenada, mas que o caso agora está na Força Especial de Combate ao Crime (FELCC). Ele soube que dois homens, pai e filho, foram presos pelo crime. Além disso, confirmou que o incidente está sendo investigado como parricídio.
Estes crimes provocaram um alerta nacional, especialmente porque as vítimas foram mulheres e crianças. Famílias foram destruídas e menores ficaram órfãos. A população exige maior segurança nos bairros e nas escolas.