Sangue de ex-gerente de vendas na cena do crime: o que isso significa para o duplo homicídio?

Cinco meses após o assassinato de Juan Claure S., 69, e de sua esposa Rufina Justina Ayala C., 68, foram divulgados os resultados da perícia genética forense, realizada com 114 amostras obtidas em três cenários: o principal, as vítimas ‘quarto e sua fazenda, além de dois veículos e uma propriedade em Tiquipaya. Nas análises foram identificados três “perfis genéticos”: o das vítimas e o de um terceiro, Nelo Fernando AM, que foi chefe de Vendas por mais de uma década na empresa de papel de marido e mulher. O sangue deles foi encontrado em cerca de 80 peças de evidência. Nelo Fernando faleceu no dia 1º de julho, três dias após o duplo crime, em um estranho acidente de trânsito, já que, segundo câmeras de vigilância, foi visto atravessando a avenida abruptamente quando um caminhão estava muito próximo dele.

ONDE ESTÃO AS MANCHAS DE SANGUE DO EX-CHEFE DE VENDAS? De acordo com os resultados da perícia genética forense realizada pelo laboratório Genetox, foram processadas 114 amostras. O sangue de Nelo Fernando A. foi identificado em mais de 80 provas. Entre os mais relevantes estão uma balaclava, luvas pretas de látex encontradas em um canal de água dentro da fazenda Claure e uma faca encontrada debaixo de uma cama. Também foram detectados vestígios de sangue no chão, principalmente no quarto principal, corredores, degraus, bem como em lençóis, cortinas, tapetes e paredes. Nos dois veículos que ele utilizava foram realizados testes de quimioluminescência que detectaram sangue no volante, cabeçote da caixa de câmbio e bancos. Além disso, em sua casa em Tiquipaya, foi encontrado sangue em um esfregão e em seu bastão.

Outra prova, considerada fundamental pela advogada Eliana Colque, que representa Juan Carlos, Nancy e Carminia, foi a descoberta do cabelo de Nelo Fernando nas mãos de Juan, a vítima. Isso sugere que o empresário tentou se defender durante um ataque com faca.

Para as irmãs Claure, a perícia revelou a identidade do culpado dos assassinatos de seus pais: Nelo Fernando A., que, segundo elas, “pulou” no caminhão para tirar a própria vida. A advogada Eliana Colque sustenta que Nelo Fernando é o único responsável, tanto material como intelectualmente, e que o motivo do crime estaria relacionado com a sua tentativa de ocultar um desvio na empresa de papel, que ascenderia a mais de três milhões de bolivianos.

Por sua vez, a advogada Rocío Peñaranda, representando as irmãs, também apontou Nelo Fernando como o responsável pelas mortes, embora acredite que ele poderia ter recebido ajuda. Como exemplo, citou que alguém deve tê-lo ajudado a entrar na fazenda naquela noite, 28 de junho.

Em contrapartida, Eduardo Mérida, advogado de Richard, irmão mais novo das vítimas, destacou que estão sendo feitos esforços para exonerar Juan Carlos, o filho mais velho, que está sendo investigado por suposto parricídio, e seu amigo Jorge MGR, embora reconheça a culpa de Nelo. participação de Fernando, Mérida sustenta que os outros dois homens poderiam ser os autores intelectuais do crime.

A balaclava que o autor do duplo crime supostamente usou. / OPINIÃO
A balaclava que o autor do duplo crime supostamente usou. / OPINIÃO

O CRIME DOS EMPREENDEDORES No dia 29 de junho, por volta das 00h30, Juan e Rufina Claure foram assassinados em seu quarto em sua fazenda, localizada na área de Vinto Chico, Sipe Sipe, no Vale Baixo de Cochabamba. Ambos eram empresários de destaque no departamento, fundadores há 18 anos de uma empresa papeleira que se dedicava à produção e comercialização de papel higiênico. Além disso, eram os principais acionistas das Industrias Agrícolas de Bermejo (IABSA), em Tarija. Juan e Rufina eram pais de quatro filhos: Juan Carlos, Nancy, Carminia e Richard.

SUSPEITOS SOBRE O FILHO MAIS VELHO E SEU AMIGO Os investigadores recolheram depoimentos do círculo próximo do falecido, incluindo o zelador do imóvel e um auditor, cujos depoimentos colocaram sob suspeita o filho mais velho, Juan Carlos, e seu amigo Jorge MGR. negócio, o que teria levado à “demissão” do filho mais velho. Porém, segundo a advogada Eliana Colque e as irmãs Nancy e Carminia Claure, não houve essa separação. O auditor, por sua vez, descreveu Juan Carlos como uma pessoa com “comportamento ameaçador e agressivo”, com quem viveu dois episódios violentos quando o pai de Juan Carlos solicitou a auditoria de uma empresa de propriedade do filho. Por não ter autorizado a auditoria, Juan Carlos o expulsou do local.

O CHAMADO AO FILHO MAIS NOVO QUE INCRIME SEU IRMÃO E AMIGO Uma das situações que aumentaram as suspeitas sobre Juan Carlos foi uma ligação que Richard, o filho mais novo dos Claure, recebeu de Nelo Fernando AM. Na conversa, Nelo garantiu que seu irmão mais velho e seu amigo estavam por trás do crime de seus pais, alegando. que este último havia contratado um assassino para executar o plano. Ele disse que o motivo do assassinato estaria relacionado a supostos desvios econômicos e superfaturamento na empresa, que o pai estava prestes a descobrir. Nelo prometeu entrar em contato novamente com Richard para entregar as provas.

O mais novo dos Claure partilhou a informação com a Polícia e entregou o telemóvel com a gravação, que foi utilizado pelo Ministério Público para acusar Juan Carlos por alegado parricídio e Jorge MGR por cumplicidade. Ambos estavam no velório quando, no dia 1º de julho, uma patrulha policial chegou ao local. Prenderam primeiro Jorge e depois Juan Carlos, quando ambos saíram do velório. Eles foram transferidos para a Delegacia de Atendimento Integrado (EPI) de Sipe Sipe.

Lá, Juan Carlos tomou conhecimento do depoimento de seu irmão mais novo e do telefonema de Nelo, que também era procurado para depor.

A MORTE DO EX-CHEFE DE VENDAS No dia 1º de julho, por volta das 21h, enquanto estava nas celas da polícia, Juan Carlos recebeu uma ligação informando da morte de Nelo Fernando. O ex-gerente comercial, de 57 anos, foi atropelado por um caminhão por volta das 19h30, quando passava pela Avenida Albina Patiño. Segundo relatos, Nelo atravessou a estrada repentinamente quando o veículo estava a uma curta distância. Embora o motorista o tenha levado ao hospital, o homem não sobreviveu.

As circunstâncias de sua morte chamaram a atenção das irmãs Claure, que passaram a suspeitar dele. Eles souberam que Nelo teve problemas com o pai devido a reclamações de comerciantes que afirmavam ter dado dinheiro sem receber o produto, o que os levou a afastar o cargo de chefe de vendas. Justamente no dia 29 de junho Nelo teve que entregar um inventário. Durante a autópsia, foi descoberto que ele apresentava um ferimento linear na mão, causado por objeto pontiagudo, o que indicava que a lesão ocorreu antes do acidente de trânsito, evidenciando inclusive a sutura.

Para as irmãs Claure, a morte de Nelo Fernando levantou suspeitas. Desde o início defenderam Juan Carlos e seu amigo Jorge MGR, que foram detidos e apresentados perante um juiz de Sipe Sipe no dia 3 de julho, que ordenou seu confinamento preventivo na prisão de San Sebastián. Porém, depois de um mês, ambos conseguiram prisão domiciliar e, recentemente, obtiveram o direito ao trabalho. Em meio a tudo isso, em agosto, o zelador da fazenda Claure foi preso e atualmente está em prisão preventiva.

Ilustração da área onde o ex-trabalhador das vítimas sofreu um ferimento cortante, antes do acidente de trânsito. / OPINIÃO
Ilustração da área onde o ex-trabalhador das vítimas sofreu um ferimento cortante, antes do acidente de trânsito. / OPINIÃO

O CASO AINDA ESTÁ ABERTO: MAIS EVIDÊNCIAS PENDENTES Segundo a advogada Eliana Colque, a perícia genética não implica o encerramento do processo, uma vez que ainda se aguardam os resultados da perícia informática e criminalística. Acrescentou que não é a defesa que pretende responsabilizar um falecido, como no caso de Nelo Fernando, mas que as provas apontam nesse sentido, e que, apesar da sua morte, permanecem provas.

“Essa perícia genética confirma o que sustentaram a defesa de Juan Carlos Claure e Jorge G. desde o primeiro momento em que souberam da morte de Nelo Fernando A., que se suicidou atirando-se na frente de um caminhão. Nunca tivemos dúvidas, sempre sustentamos que ele era o autor intelectual e material do crime, mas tivemos que esperar pelas provas técnicas e científicas que foram obtidas legalmente no âmbito da investigação. A prova fala por si, a defesa não o diz, a perícia genética diz-no (…). Não estamos falando de uma prova, mas de mais de 80 provas que a colocam na cena do crime”, afirmou.

Por outro lado, a família de Nelo Fernando não se pronunciou sobre o assunto. Enquanto isso, o duplo homicídio dos cônjuges continua sob investigação.

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