Impostor do jaleco branco: falso médico chileno semeia dor na Bolívia e famílias clamam por justiça

Christian Emilio Gosen Cachich, o chileno conhecido como o “vigarista de mil faces” por sua capacidade de escapar da justiça, se passou por médico por mais de 20 anos. Em seu país natal, o Chile, ele se apresentou como psiquiatra, mas quando foi descoberta sua falta de formação médica, fugiu para Santa Cruz, na Bolívia. Lá, ele continuou seu engano oferecendo serviços como gastroenterologista. Suas ações deixaram um rastro de mais de 50 vítimas, carregando doenças agravadas, dívidas e perdas econômicas. Dois dos pacientes que buscaram alívio nas mãos perderam a vida.

Na quarta-feira, 25 de abril, Gosen, 63 anos, foi preso em uma clínica em Santa Cruz. Seu consultório exibia vários documentos emoldurados que pareciam ser diplomas profissionais e certificados de especialização, criando uma fachada de confiança para os pacientes que procuravam endoscopias, colonoscopias e outros serviços médicos.

O vereador de Santa Cruz, Manuel Saavedra, munido de provas que demonstravam a falsidade dos diplomas universitários de Gosen, confrontou-o no seu gabinete. A polícia, previamente alertada, estava a caminho. Apesar de tentar manter a posição de médico experiente, o estrangeiro acabou cedendo às provas e admitiu a sua responsabilidade, embora afirmasse não ter causado danos a ninguém.

No dia seguinte, 26 de abril, o homem que se passou por médico compareceu perante um juiz cautelar. Isto determinou a sua prisão preventiva na prisão de Palmasola por um período de 60 dias. Ele foi acusado de exercício indevido da profissão e ataque à saúde pública. Após ser internado no presídio, foi transferido para o micro-hospital do presídio, pois apresentou documentação comprovando graves problemas de saúde que necessitam de diálise a cada dois dias. No dia da sua detenção, quando a polícia chegou ao seu escritório com o mandado de detenção, o arguido pediu a um dos seus colaboradores que lhe administrasse insulina.

SUA HISTÓRIA Uma reportagem da Tele13 Chile, publicada em 2021, expôs a longa carreira criminosa de Gosen, conhecido como “o golpista de mil faces”. Fazendo-se passar por psiquiatra com diplomas falsos de universidades chilenas e cubanas, Gosen ofereceu consultas telemáticas durante a pandemia. Depois que seu engano foi descoberto e um mandado de prisão emitido, ele fugiu do país.

A Tele13 revelou uma história de golpes que remonta a décadas. Em 2004, Gosen se apresentou como empresário no terminal pesqueiro, deixando uma dívida milionária. Em 2003, já havia sido denunciado por exercer ilegalmente a função de ginecologista em Puente Alto. Em 2000, ele fraudou uma companhia telefônica fazendo-se passar por publicitário. Seus enganos remontam até 1995, quando foi denunciado pela Faculdade de Medicina por exercer a profissão de clínico geral sem qualificação. O primeiro registro de seus crimes data de 1991, quando se passou por advogado para tentar libertar um fraudador.

Ao longo dos anos, Gosen adotou diversas identidades falsas, incluindo médicos de diversas especialidades, advogado, publicitário e empresário, justificando assim o seu apelido de “o golpista de mil faces”.

MAIS VÍTIMAS NA BOLÍVIA Fabricio Ortiz, advogado das vítimas de Gosen, relatou que, em menos de uma semana, 50 pessoas compareceram à Força Especial de Combate ao Crime (FELCC) para denunciar o falso médico e buscar justiça. São lamentadas duas vítimas mortais, a última delas uma mulher de 75 anos que faleceu na quarta-feira, 1 de maio. Este último caso motivou o Ministério Público a iniciar uma nova investigação por suposto homicídio culposo.

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